sexta-feira, abril 27, 2007

Ainda há juízes em Berlim.




Em 1745, o rei Frederico II da Prússia, ao olhar pelas janelas de seu recém-construído palácio de verão, não podia contemplar integralmente a bela paisagem que o cercava. Um moinho velho, de propriedade de seu vizinho, atrapalhava sua visão. Orientado por seus ministros, o rei ordenou: destruam o moinho!O simples moleiro (dono de moinho) de Sans-soussi não aceitou a ordem do soberano.O rei, com toda a sua autoridade, dirigiu-se ao moleiro: Você sabe quem eu sou? Eu sou o rei e ordenei a destruição do moinho!O moleiro respondeu não pretender demolir o seu moinho, com o que o rei soberano redargüiu: Você não está entendendo: eu sou o rei e poderia, com minha autoridade, confiscar sua fazenda, sem indenização!Com muita tranqüilidade, o moleiro respondeu: Vossa Alteza é que não entendeu: ainda há juízes em Berlim!Moral da história: é importante estimular a consciência cívica e rememorar a biografia desses grandes homens que fizeram a história da humanidade, para que não se percam os poderes de indignação e de ação.O moleiro não sabia se os juízes de Berlim iriam decidir a seu favor e isso não era o mais importante.O relato serve para não permitir o esquecimento sobre a importância da independência do magistrado - valor dele inseparável. A condição de livre, honesto, independente e obediente sim, mas apenas à lei e à sua própria consciência.Como dizia Cícero em sua antítese: “Devemos ser escravos da lei para poder ser livres”.“O direito é uma proporção real e pessoal, de homem para homem, que, conservada, conserva a sociedade, corrompida, corrompe-a” (Dante Alighieri).Essa história é verdadeira e, em momentos importantes, merece sempre ser lembrada. O moinho (símbolo de liberdade) ainda impera soberano ao lado do Castelo (Palácio de Sans-soussi, em Potdsdam, cidade a 30 minutos de Berlim).

Este texto, escrito já há algum tempo e provavelmente sob outro contexto pelo juiz Roberto Bacellar, de Curitiba, terminava com a frase:"Graças a Deus, ainda há juízes no Brasil".

Diante de toda impunidade "oficial"; diante de todas as amostras explicitas de imoral corporativismo e troca de favores entre os membros dos três poderes; diante dos infindáveis escândalos dentro do próprio judiciário envolvendo juizes e desembargadores (dos quais apenas parte vai para a mídia), o Freeman pergunta: será verdade?
Brasília infelizmente, parece não ser Berlim.

Um comentário:

Saramar disse...

Freeman, não conhecia o texto. é magistral (sem trocadilho).
Confesso minha inveja enorme do país, onde a lei é cumprida.
Chega a ser risível (se não fosse tão trágico) o contraste entre a realidade germânica e a brasileira.
Atentei também para a data: século XVIII. Aqui, no século XXI, convivemos com a criminalidade instalada naquele que deveria ser o mais sagrado dos poderes.
às vezes, me dá um cansaço desse país!

beijos