quarta-feira, dezembro 15, 2010

O exemplo Sul Coreano






Os líderes de Brasil, México e Argentina deveriam ter observado por que a Coreia do Sul é hoje uma potência.


Quando os presidentes de Brasil, México e Argentina participaram da reunião das maiores economias mundiais no G-20 em Seul, no mês passado, eles deveriam ter reservado algum tempo para dar uma espiada no país sede do encontro. Poderiam ter aprendido porque a Coreia do Sul se saiu melhor que seus países.

Há apenas cinco décadas, a Coreia do Sul tinha uma renda per capita anual de US$ 900, uma pequena fração da renda per capita anual da Argentina, US$ 5 mil, do México, US$ 2 mil e do Brasil, US$ 1,2 mil. Hoje, a Coreia do Sul tem uma renda per capita anual de US$ 28 mil, mais de duas vezes os US$ 13,4 mil da Argentina, os US$ 13,2 mil do México e os US$ 10,1 mil do Brasil.

O que a Coreia do Sul faz tão melhor que os países latino-americanos?
Há diversas explicações, incluindo o fato de que o país asiático cultivou sempre políticas econômicas sérias, sem guinadas populistas e sem desperdícios com a burocracia; aferrou-se a uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo, movida pelas exportações; e há muito pratica uma espécie de capitalismo gerido eficazmente pelo Estado, ao qual alguns economistas creditam o surgimento de suas multinacionais gigantes, como Hyundai, Daewoo e Samsung. Além disso, virtualmente, todos concordam que uma das principais razões por trás do sucesso foi sua obsessão com educação.

A Coreia do Sul decolou nos anos 60, quando EUA e Europa reduziram drasticamente sua ajuda econômica ao país, e a economia sul-coreana despencou. A Coreia do Sul decidiu que precisava de uma força de trabalho bem formada para aumentar a receita das exportações.
Assim, investimentos pesados foram feitos em educação, ciência, tecnologia e inovação.

Não se tratou apenas de gastos do governo: o governo sul-coreano gasta menos que México, Brasil e Argentina em educação, e muito menos com a sua burocracia, o que por sua vez reduz drasticamente as chances de corrupção.

A Coreia do Sul desenvolveu uma meritocracia educacional com padrões de excelência ultra-rigorosos (ao invés das demagógicas e ineficazes cotas raciais). Apenas um exemplo: o ano escolar na Coreia do Sul tem 220 dias. Por comparação os anos escolares oficiais do México e do Brasil têm 200 dias, e o da Argentina, 180 dias.
Os dias escolares na Coreia do Sul também são muito mais longos que nos países latino-americanos. Os jovens sul-coreanos com frequência estudam 12 ou 13 horas por dia. Segundo vários estudos, as famílias de classe média sul-coreanas gastam cerca de 30% de sua renda com professores particulares para seus filhos.
Chung-in Moon, um professor da Universidade Yonsei e ex-diplomata sul-coreano que conheci em uma conferência no ano passado, me contou que na Coreia “os pais não pensam duas vezes antes de gastar todo seu dinheiro na educação dos filhos. As pessoas vendem as vacas, suas casas, o que tiverem para enviar os filhos à universidade”.

Para se tornar professor secundário na Coreia do Sul, os alunos precisam estar nos 5% superiores em suas classe de graduação colegial. Por comparação, milhares de professores no México ainda obtêm seus empregos comprando seus postos pelo equivalente a US$ 10 mil, independentemente de suas credenciais acadêmicas. Não é de surpreender que a Coreia do Sul tenha se tornado um dos países com melhor desempenho em testes educacionais de matemática e ciências, e um dos mais prolíficos inventores de novos produtos.

Enquanto a Coreia registrou cerca de 9.600 patentes em 2009, o Brasil registrou 150, o México 80, e a Argentina 40.
Isso mostra, em resumo, a extraordinária distancia que separa a formidável Coréia do Sul dos países latinos.
Os presidentes de México, Brasil e Argentina teriam feito bem em aprender alguma coisa com os seus anfitriões e levar lições para casa.


O artigo original é de Andres Oppenheimer. Está editado pelo Freeman.