terça-feira, março 20, 2018

Crescimento Econômico e Liberdade Política





R. Vecchiatti – Fevereiro de 2018

As regras são simples:

·      Ambiente político e Instituições Públicas confiáveis;
·      Menor interferência regulatória do Setor Coercitivo (Público);
·      Maior liberdade de ação do Setor Voluntário (Privado);
·      Sistema tributário isonômico e justo.


Qual o objetivo primeiro das Nações?
O que, de fato, justifica a manutenção dos estados nacionais?
Não seria, justamente, criar condições para propiciar o bem estar dos seus cidadãos?
Poderíamos considerar que, entre as essências do chamado “bem-estar”, estão uma renda “per-capita” razoável (ante o custo de vida local), e a manutenção da liberdade de ação desses mesmos cidadãos?

Qual a receita para o êxito?

Países prósperos e livres observam, no seu cotidiano, essas poucas regras. 
Querer reinventar a roda, nessa ceara, é pura perda de tempo.
E, ao desconsiderá-las, incorremos em taxas de crescimento medíocre ou temporário, ou cerceamos a liberdade.

Um exemplo relevante entre as Nações, que seguem ou não esses princípios, pode ser a comparação entre os Estados Unidos da América  e o Brasil.

São países basicamente homogêneos nas suas estruturas: são continentais no tamanho, com idades aproximadas e populações multirraciais, operando regimes políticos, teoricamente, semelhantes.

Vejamos alguns números atuais relevantes:  
                                                                                                                                                                                                                                                      USA                              Brasil
 PIB (trilhões de dólares)                                                      $18.2                            $2.0
Taxa crescimento médio anual:  2009 – 2016                3,73%                          1,18%
Renda per capita (milhares de U$)                                    $60.0                            $8.2    
Carga tributária em % do PIB                                             24%                              34,5%
Taxa de desemprego 2016:                                                  4,1%                             13.2%
Evolução da renda média 2016:                                         2,9%                             (-)


Apesar disso, vivemos em condições, absolutamente, diversas! Mas, qual a razão?
A razão é que, apesar das semelhanças teóricas, essas 4 regras, são absolutamente diferentes nos dois países.


O Sistema Tributário

 De forma prática, vamos nos ater apenas aos princípios e seus resultados, sem entrar em qualquer detalhe técnico:


  • Na América, a base da estrutura tributária é o Imposto de Renda. Isto é, LUCROU? PAGOU! Se não ganhou, não paga.
  • O imposto sobre vendas na América é 6% na maioria dos estados. Calculado, corretamente, “por fora”,  sendo suficientemente baixo para não criar qualquer ímpeto à sonegação...
  • No Brasil, a base são os impostos indiretos: os IVAs com alíquotas de 18%; PIS, Cofins, e uma parafernalha de outros tributos, calculados, “por dentro” –  encarecendo brutalmente os produtos (da energia elétrica ao vinho; do material escolar aos veículos), penalizando principalmente, a maioria, pela baixa renda nacional. Além disso, enlouquecem os contribuintes, criam guerras tributárias e legais além de favorecer à sonegação.
  • O sistema americano, incentiva o consumo (71% do PIB); o brasileiro desincentiva tanto a produção quanto o consumo.
  • O sistema americano é mais justo: não onera consumidores e cobra a maior parcela dos impostos só de quem lucra.
  • No Brasil, empresas, e mesmo profissionais liberais, lucrando ou não, pagam impostos sobre receitas ou outras bases”, tendo lucro ou não! É o Estado “sangue-suga” empobrecendo a Nação.
  • Na América o princípio da isonomia é a regra na área tributária; no Brasil, as exceções sobressaem, e beneficiam principalmente a burocracia estatal em quase todas as áreas.
  • À partir de 2018, na América, as alíquotas de IR corporativas, foram reduzidas de 35% para 21%! Isto já está ocasionando uma movimentação fabulosa de investimentos, de volta às terras americanas, e certamente acelerará os índices de renda e emprego futuros.
  • Na área trabalhista,  nossa anacrônica legislação, regula quase tudo no mercado de trabalho. Sob a falsa tutela do Estado, imobiliza e desperdiça recursos milionários e tempo. É grande incentivadora do litígio e de uma gigantesca usurpação pseudo-legal . São mais de 3 milhões de causas por ano. Gera enormes custos de transação e incertezas, que além de desestimular a própria geração de empregos, têm consequências perversas na economia nacional e na competitividade das empresas.


 Menor interferência regulatória do Setor Coercitivo (Público) e Maior liberdade de ação do Setor Voluntário (Privado):

As funções naturais da sociedade produtiva de: criar, produzir, comercializar, importar, exportar, investir, etc., são absolutamente distintas no relacionamento dos Setores Voluntário e Coercitivo nos dois países.

  • Uma listagem de obrigações burocráticas à cidadãos e empresas, no Brasil,  muitas absolutamente inúteis ou redundantes, daria uma enorme enciclopédia...na América, talvez, um pequeno livro.
  • O Estado brasileiro, interferindo nas ações econômicas para regular e  controlar muitas das operações que deveriam ser livres no Setor Voluntário (Privado), acaba por atrasar, burocratizar e impor custos desnecessários à economia.
  • O resultado final no Brasil é que: o enorme custo de transações desincentiva os investimentos; cria grande atraso; aumenta o custos dos produtos e diminui da renda dos cidadãos.


 Ambiente Político e Instituições Confiáveis

·      O Estado de Direito pressupõe a adoção de duas premissas essenciais: A primeira, de que todos os órgãos de um Sistema de Governo tenham perfeitamente definidas e limitadas as suas funções; a segunda condição diz que, as leis para serem verdadeiras devem ter os seguintes atributos: serem normas de justa conduta, iguais para todos (inclusive para quem as fez) e aplicáveis à um número indefinido de casos futuros.
·      Para os nossos legisladores, as “leis” não precisam ser iguais para todos, podem ser discricionárias ante este ou aquele segmento da sociedade, desde que sirvam aos seus propósitos políticos ou à, demagógica e, dificilmente mensurável, rubrica de “justiça social”.
·      O que acontece, de fato, é que a sociedade produtiva brasileira sustenta uma máquina pública imensa, ineficiente e que consome grande parte da renda nacional. Um Estado Coercitivo que, além do seu exorbitante custo (35% do PIB), não proporciona à sociedade, que o sustenta, qualquer serviço público eficaz.
·      Precisamos nos convencer, de uma vez por todas, que o caminho para a prosperidade tem regras muito simples (como as citadas acima).
·      Ambiente político e Institucional confiável, com regras isonômicas definidas e duradouras.
·      Esta é a melhor receita para atrair e propiciar investimentos. E são os investimentos  que criam empregos e geram renda.  São os investimentos produtivos que propiciam a estabilidade social e possibilitam a prosperidade dos cidadãos. Como consequência, fortalecem o próprio Estado.
·      O aumento da renda se faz através do trabalho produtivo e da eliminação dos desperdícios, o maior deles, aliás, é o custo improdutivo dos tributos hauridos da sociedade e malbaratados pelos corredores de um Estado pesado e ineficiente.
·      O Estado brasileiro (Setor Coercitivo da economia) ao invés de ser um meio para a concretização das aspirações dos cidadãos, tornou-se um fim para si próprio.

Sinteticamente podemos concluir que, a causa determinante da prosperidade das nações está no grau de liberdade de ação dos seus povos, consequência natural da eficácia das Instituições dos seus Sistemas de Governo.


Rafael Jordão M. Vecchiatti
Economista, ex-Visiting Scholar da Paul H. Nitze, School of Advance International Studies,  The Johns Hopkins University.  É atualmente  media international representative nos Estados Unidos.

domingo, março 04, 2018

Comércio Exterior: oportunidades para o Brasil voltar a crescer em 2018



* R. Vecchiatti


I – O cenário mundial e o Brasil


Há pelo menos quinze anos, o Brasil vem perdendo oportunidades de aumentar sua participação no comércio internacional de forma preocupante.
Várias são as razões, mas entre as principais esteve, até recentemente, o uso oficial da diplomacia comercial, como ferramenta política, para atrair ou agradar países considerados “amigos” dos ocupantes do Palácio da Alvorada.

A diplomacia clássica e coerente nos ensina que países não tem “amigos”. Países tem interesses.
Essa distorção política, no campo externo, acabou por comprometer nossos reais objetivos como Nação: o desenvolvimento econômico e a busca da prosperidade para os cidadãos brasileiros.

Além da razão ideológica, a conduta oficial, que negligencia a participação do Setor Voluntário (privado) da economia nas questões da política comercial, tem deixado o País cada vez mais isolado nas decisões externas relevantes.
O mundo não espera o Brasil, e segue se globalizando de uma forma ou de outra.

O comércio das cadeias produtivas (supply chain trade) vem se adaptando à evolução das economias e ao interesse dos países, e crescendo há mais de 20 anos. O intercâmbio de bens, investimentos, tecnologia e serviços, interligam a inovação e o capital com a produção a baixo custo. Atualmente, a industrialização mundial de manufaturados depende da participação dos países em desenvolvimento, cujos benefícios são visíveis através das estatísticas econômicas. Como vasos comunicantes, esses países tem visto suas rendas crescerem sensivelmente, além de ajudarem no nível de emprego das suas populações.

A incorporação das cadeias produtivas mundiais, nos mega-acordos de livre comércio, fez e, faz o mundo se multipolarizar rapidamente. A crescente participação desse modelo de desenvolvimento pelos países asiáticos e alguns latino-americanos trouxe novos desafios ao Brasil.
O País, sem estratégia e com dificuldades de criar um verdadeiro mercado regional para seus produtos e serviços, está cada vez mais isolado. Nos anos mencionados, a exclusão do Brasil nas negociações externas afetaram significativamente o comércio brasileiro de manufaturas.

Por outro lado, os países que integram a Aliança do Pacífico: México, Chile, Colômbia e Peru  têm se beneficiado dos acordos com os Estados Unidos, Europa e China, e hoje estão inseridos no dinamismo dos acordos de livre-comércio. O mesmo ocorre com os países da franja asiática, onde, os seus membros, tiveram um significativo aumento na renda per-capita das suas populações, muito em decorrência da sua vibrante participação nas caseias produtivas globais e nos acordos de livre-comércio.



II – Destruindo Mitos

Os críticos da globalização, mais ideológicos que realistas, são sistematicamente desmentidos pelas  estatísticas. Agora, depois de muitos anos e, por incrível que pareça, temos um deles ocupando a Casa Branca. Pelo menos é o que manifesta a sua imprevisível retórica.

O senhor Trump, um desses fenômenos midiáticos-eleitorais da idade moderna, eleito através de uma retórica nacionalista-populista, (mais própria dos países do terceiro mundo), demonstra absoluto desconhecimento dos números benéficos que o comercio internacional propicia ao seu próprio país.
A nação Americana se tornou próspera, principalmente, pela inovação e pelo enorme comércio externo que sempre praticou no maior período da sua existência.

Politicamente, tanto os populistas-nacionalistas, quanto os esquerdistas, tendem a culpar o comércio externo como responsável por parcela ponderável dos seus problemas econômicos internos: desemprego principalmente. O que não é, absolutamente, o caso dos EUA, atualmente.

O ex-primeiro ministro Tony Blair pôs essa disputa numa ótica mais apropriada, eliminando o tradicional clichés, direita e esquerda. De fato, a questão é mais sobre os governantes escolherem ações para uma economia mais aberta ou mais fechada para suas nações. E, colherem os resultados... Se enxergarmos as diferenças diante do que os fatos econômicos e a História tem nos ensinado, deveríamos abrir nossos olhos para as oportunidades e novas atitudes diante do comércio exterior.

Sob a ótica do desenvolvimento econômico, a globalização é uma enorme e positiva contribuição.

De acordo com o Banco Mundial, o número de pessoas vivendo no nível de extrema pobreza, ou com menos de U$1.90 ao dia, caiu de perto de 2 bilhões, ou 37% da população mundial em 1990, para 700 milhões, ou menos de 10% em 2015.
Esses dados mostram que a globalização tem sido benéfica para muitos mercados emergentes. Mas, de fato, ela é também benéfica para as economias avançadas da Europa e da América, pois propiciou um crescimento significativo do “bolo” econômico para todos os seus participantes.

Particularmente para os EUA, ao olharmos o índice de produção de manufaturados, observamos, convincentemente, que o declínio da América nesse setor não passa de um mito. Mais importante, refuta completamente o argumento de que o volume de fabricação do setor manufatureiro tem sofrido como reflexo da globalização e dos acordos de livre comércio.

Na verdade, desde o fim dos anos 80, quando as economias se interligaram de forma mais crescente, o setor só cresceu. A única interrupção foi em 2008 / 2010, como resultado da recessão causada pela crise imobiliária – financeira. Desde então, a manufatura americana recuperou-se fortemente e a tendência de crescimento continua.



III – Exemplos históricos

A história econômica tem uma infinidade de exemplos demonstrando que, as nações que exacerbaram em medidas protecionistas nas suas economias, só obtiveram o fracasso como resultado. 

Exemplo significativo vem da própria América. Há quase um século, entre 1920 e o início dos anos 30, a economia estava desacelerando e entrando no que, hoje, conhecemos como a Grande Depressão. Mas, esse período foi precedido por grandes ganhos de produtividade, como a nascente indústria automobilística de produção em massa e a crescente e dinâmica eletrificação do país.  Nesse período os agricultores foram particularmente afetados. 
O candidato republicano Herbert Hoover, em sua campanha eleitoral, prometeu proteger os empregos americanos e aumentar as tarifas das importações agrícolas. Ao vencer as eleições e obter maioria na Câmara e no Senado, foi promulgada em Junho de 1930, a Lei de Tarifas Smoot-Hawley. Esta incluia cerca de 900 tarifas elevadas, não só de produtos agrícolas, mas também sobre os industriais.
Os efeitos foram desastrosos. As nações européias retaliaram, aumentando suas tarifas sobre os produtos americanos. Em três anos as exportações e as importações diminuíram 66%, e o comércio global simplesmente desabou. Embora o protecionismo da presidência de Hoover não fosse a causa da Grande Depressão, certamente, foi um fator significativo. 

Quando Roosevelt assumiu a presidência em 1933, a Lei de Tarifas foi revogada e a liberalização do comércio multilateral foi reiniciado. Isso ajudou fortemente a recuperação da economia global.
Infelizmente, naquela altura, milhões de americanos tinham perdido seus empregos, suas casas e suas economias.

Mas, a experiência americana está longe de ser a única. A história econômica está cheia de exemplos de fracassos, quando se trata de protecionismo comercial. 
No início da década de 1950, o economista argentino Raúl Prebisch, da CEPAL, foi o arquiteto chave de uma teoria econômica descrita como "Teoria da Dependência" (Celso Furtado foi o defensor dela no Brasil).
De acordo com sua visão, o mundo era dividido em um "centro", constituido pelos países desenvolvidos (Estados Unidos e Europa, basicamente) e, uma "periferia", os países subdesenvolvidos. Enquanto o centro era, principalmente, exportador de produtos manufaturados, os países da periferia eram exportadores de commodities. 
Como a tendência era de que os preços dos manufaturados aumentassem mais rapidamente do que o preço das commodities, os discípulos da teoria da dependência concluíram que, o hiato da riqueza entre os dois grupos de nações só se ampliaria, tornando os países desenvolvidos mais ricos e os subdesenvolvidos, mais pobres. 
Essas conclusões foram, de fato, bastante precisas. 
Entretanto, imprecisas e bastante equivocadas foram as ações econômicas implementadas para sanar tal problema. Principalmente no espectro da proteção comercial, seu tempo de duração e na dose da proteção.
Um à um, os países da América Latina adotaram as chamadas "políticas de substituição de importações" que, como o nome indica, significava substituir as importações de manufaturados, por produtos fabricados localmente. Tudo feito através da imposição de barreiras tarifárias e não-tarifárias, ao comércio internacional. 

Teoricamente, essas ações deveriam romper a diferença entre os países e, propiciar as economias em desenvolvimento, alcançar a dos países desenvolvidos. 
A estratégia, inicialmente, mostrou-se promissora à medida que o crescimento econômico acelerou-se com a implantação de manufaturas locais.
Parece óbvio que industrializar países é saudável em todos os sentidos. No entanto, os Países Latinos, com seu característico intervencionismo governamental, passaram à aumentar suas ações a cada ano, para apoiar inviabilidades, ineficiências e indústrias internacionalmente não-competitivas.

Como quase tudo no mundo da economia é mensurável, as estatísticas e o tempo, acabaram por demonstrar o verdadeiro resultado: a maioria dos países colheu um grande desastre econômico. Como subproduto, tiveram ainda, favorecimentos políticos, um excesso de regulamentação, uma burocracia ineficiente e sufocante, e...corrupção!

No final da década de 70 e início dos anos 80, a maioria das economias latino-americanas estava enterrada sob uma montanha de débitos e com uma infinidade de empresas ineficientes - principalmente estatais. 
As vítimas primárias desse fracasso foram diretamente os mais pobres e a classe média e, indiretamente os orçamentos nacionais.

Em contraste, grande parte do Sudeste Asiático não segui essa estratégia e construiu o seu sucesso na abertura para o comércio. A expansão para o comércio exterior acabou por trazer investimentos e manufaturas locais, atraídas naturalmente pelas vantagens comparativas de cada país. 
O crescimento acentuou-se desde a década de 70, países pobres viram suas rendas crescerem significativamente. Em outras palavras: economias fechadas falharam, economias abertas, tiveram sucesso.

Por essas razões é que o Brasil precisa mudar radicalmente sua postura diante do comércio exterior.  Precisa para isso, eliminar toda a parafernália de imposições burocráticas governamentais que atrasam e dificultam a saída de produtos por que produz e a chegada de produtos por que consome. Precisamos revitalizar, seriamente, o comércio internacional. Isso alavancará nossas cadeias produtivas e toda a indústria manufatureira. Os resultados serão certamente positivos.


* Rafael Vecchiatti, economista e administrador de empresas; ex-Visiting Scholar da Paul H. Nitze - School of Advance International Studies - The Johns Hopkins University; conselheiro da Abimaq; ex-membro do Conselho Superior de Economia da FIESP. É atualmente Consultor Empresarial e representante internacional de Media nos Estados Unidos.

terça-feira, março 15, 2016

O IMPEACHMENT DO BRASIL

A debandada dos investidores externos, simbolicamente decretada pela perda do grau de investimento por uma agência de risco americana, e agora, a reiterada apresentação de um Orçamento Fiscal para 2016, pela equipe econômica, com providências e projeções incompatíveis com os encargos financeiros de um governo profundamente deficitário, conduzem a opinião pública e os mercados à inevitável conclusão de que quem está sendo impedido de prosseguir e atuar não é a presidente, mas o próprio Brasil.
Essa percepção é fatal para as chances de possível recuperação da debilitada economia, ainda no próximo ano. Em seu descaminho como gestores da política econômica, os atuais detentores do poder promovem o que deveria ser inibido — a escalada de impostos e os juros absurdos — e poupam o câncer do excesso do gasto público, que deveria ser prontamente extirpado. Isso só não é novidade porque o Brasil é servil ao poder.
Não há qualquer exagero nessa avaliação. Os contribuintes arcarão, este ano, com um encargo de juros públicos da ordem de R$ 450 bilhões. Na falta de recursos para saldar a conta indigesta, os juros não liquidados somar-se-ão à dívida total do próximo ano, e assim sucessivamente, até se constatar que o endividamento do país não cabe mais no bolso dos brasileiros. O Brasil é o único no mundo que pratica agiotagem financeira oficial contra si mesmo. Mas a elite que nos governa finge que não vê nada disso.
Na nova invocação aos pagadores de impostos para que banquem a conta, desta feita com nova CPMF, mais IOF e tributos sobre rendas diversas, a equipe de Dilma adocica números e palavras para contornar a realidade do impasse financeiro de uma dívida que não pode continuar sendo servida só com o sacrifício de quem trabalha. Enquanto a máquina pública e seus solertes interesses são preservados, pois leis foram votadas para protegê-los de qualquer contribuição ao sacrifício geral, os cidadãos comuns e as empresas sangram para fechar a perdulária conta de juros.
Mesmo com os cortes anunciados – serão efetivados? – a despesa oficial do governo central crescerá em 2016. Em bom português e sem rodeios, não há corte algum, apenas contenção momentânea de certos gastos. A abordagem fiscal do governo é equivocada. Quando se tem que enfrentar uma conta de juros de 8% do PIB, o corte inicial de despesas tem que ser linear, incidindo sobre todas as rubricas, numa percentagem suportável, que, para 2016, calculamos em 7,5%.
Não se pode anunciar mera postergação de gasto, como fez a equipe dilmista em relação ao reajuste de pessoal, adiando o aumento de janeiro para agosto. Segundo erro palmar: esperar que a abordagem de contenção de gasto possa ser apenas emergencial; ela tem que ser estrutural e plurianual, sobre todos os programas, funções e cargos, como acaba de propor o secretário da Fazenda do México, num orçamento de base-zero, seja retomando o planejamento dos gastos a partir do zero, seja desvinculando e desindexando todas as despesas.
O último erro de Dilma é o pior de todos: ao manter-se calada sobre a realidade dos juros públicos no Brasil, que representam agiotagem consentida sobre economia em frangalhos, a presidente projeta o país numa rota de submissão financeira de brasileiros contra brasileiros que faria inveja aos portugueses quando dependuraram Tiradentes pelo pescoço contra a derrama dos 20% sobre o ouro.
Nenhuma economia do mundo tem condição de servir uma dívida pública que nos custa cerca de 7% a 8 % do PIB por ano. Grande parte dos economistas se cala sobre essa questão central até por humildade de não saber que solução propor para uma conta que representa 18 Copas do Mundo por ano, paga ano após ano. Nenhuma CPMF, prevista em R$ 30 bilhões, ao menos, arranhará a superfície da rígida carapaça dos juros sobre a máquina produtiva do país que, um dia, pensou ter futuro. O Brasil já está impichado pelo orçamento de Dilma.

Por: Paulo Rabello de Castro -Doutor em economia pela Universidade de Chicago, é coordenador do Movimento Brasil Eficiente e escritor – Fonte Correio Braziliense

segunda-feira, dezembro 22, 2014

Natal: Esperança e MateMágica

.
. . .
.
Natal
tempo de esperança,
de prece,
para que esta retorne
na realização dos sonhos dos cidadãos,
e não nos abandone no meio deste pesadelo,
onde
nada sobrou
da ética política,
da vergonha humana,
do trato civilizado
da
"res publica"
.
. . .
.
1 x 8 + 1 = 9
12 x 8 + 2 = 98
123 x 8 + 3 = 987
1234 x 8 + 4 = 9876
12345 x 8 + 5 = 98765
123456 x 8 + 6 = 987654
1234567 x 8 + 7 = 9876543
12345678 x 8 + 8 = 98765432
123456789 x 8 + 9 = 987654321


1 x 9 + 2 = 11
12 x 9 + 3 = 111
123 x 9 + 4 = 1111
1234 x 9 + 5 = 11111
12345 x 9 + 6 = 111111
123456 x 9 + 7 = 1111111
1234567 x 9 + 8 = 11111111
12345678 x 9 + 9 = 111111111
123456789 x 9 +10= 1111111111

9 x 9 + 7 = 88
98 x 9 + 6 = 888
987 x 9 + 5 = 8888
9876 x 9 + 4 = 88888
98765 x 9 + 3 = 888888
987654 x 9 + 2 = 8888888
9876543 x 9 + 1 = 88888888
98765432 x 9 + 0 = 888888888


Brilhante, não é?
Para acabar, esta bela simetria:


1 x 1 = 1
11 x 11 = 121
111 x 111 = 12321
1111 x 1111 = 1234321
11111 x 11111 = 123454321
111111 x 111111 = 12345654321
1111111 x 1111111 = 1234567654321
11111111 x 11111111 = 123456787654321
111111111 x 111111111 = 12345678987654321


Encontrado, há tempos, no
Aquecimento Blogal

domingo, dezembro 14, 2014

A vaca foi para o brejo?




Arnaldo Jabor

A única maneira de se ter esperança no Brasil de hoje é acreditar que os escândalos a que assistimos sejam o indício de uma mutação histórica, para melhor.

Nunca vi nada igual. Todas as certezas estão desabando, toda fé, todas as esperanças morrem diante desta abundância de escrotidões, esse despautério de horrores. A gente liga a TV, lê o jornal e cai em cava depressão. "Tudo que é sólido desmancha no ar", como disse Marx, tão mal-entendido pela esquerda burra que tomou o poder na base da mentira e fraudes, como vemos com as granas "legais" que a tesouraria do PT recebeu dos restos de propinas. A velha "esquerda" sempre foi um sarapatel de populismo, getulismo tardio, leninismo de galinheiro e, desde 2002, inventou a adesão monstruosa aos velhos roubos da velha direita.

A chegada do PT ao governo reuniu em frente única: as oligarquias privadas com o patrimonialismo do Estado petista. Foi o pior cenário para o retrocesso: Sarney, Calheiros, até o Collor, unidos aos idiotas bolivarianos. Essa base de ação foi o adubo para os crimes da Petrobrás e outras dezenas de roubalheiras em hidrelétricas, aeroportos, portos, tudo.

O advogado de um dos acusados disse a frase síntese: "No Brasil, se não der uma grana na mão dos governantes, nem um paralelepípedo você coloca no chão". E é o País inteiro, não apenas a PTbrás.

Mas, de quem é a culpa disso tudo?

Claro que a responsabilidade principal é a aplicação bolchevique do "toma lá, dá cá", através do presidencialismo de cooptação para obter apoio dos partidos, ou seja, a corrupção permitida e estimulada é o motor petista da governabilidade. Pode uma coisa dessas?

Será que os costumeiros ladrões já sacaram que a "mão grande" é o novo "hype"?

A destruição da Lei de Responsabilidade Fiscal que Dilma iniciou é o exemplo dessa permissividade. Cada prefeitura do País vai partir para gastos corruptos. As instituições democráticas estão sem força, se desmoralizando, já que o próprio governo as desrespeita.

Será que é culpa dos organismos arcaicos do Poder Judiciário?

Ou será o surgimento de novos problemas que não são solucionáveis com os velhos mecanismos de poder?

Mas o que preocupa é que todo esse gigantesco volume de crimes denunciados possa gerar um congestionamento na Justiça, uma turbulência irreversível que transforme tudo numa massa jurídica informe. O exército de advogados já está convocado para novas e caras chicanas. O que estamos vivendo pode virar um apocalipse institucional.

O Brasil está irreconhecível. Nunca pensei que a incompetência casada com o delírio ideológico promoveria este caos. Há uma mutação histórica em andamento, como disse acima, mas que pode ser para pior, para um "quarto mundo". Este desastre me lembra a metáfora de Oswald de Andrade, de que "as locomotivas estavam prontas para partir, mas alguém torceu uma alavanca e elas partiram na direção oposta".

Isso causa não apenas o caos administrativo como também provoca uma mutação na mente e no comportamento das pessoas.

O Brasil está sendo desfigurado dentro de nossas cabeças, o imaginário nacional está se deformando.

Há uma grande neurose no ar. Cria-se uma vontade de fuga. Nunca vi tanta gente falando em deixar o País e ir morar fora.

As mudanças mentais são visíveis: nos rostos tristes nos ônibus abarrotados, na rápida cachaça às 6 da manhã dos operários antes de enfrentar mais um dia de inferno, nos feios, nos obesos, no desânimo das pessoas nas ruas, no pessimismo como único assunto em mesas de bar.

Estamos experimentando sentimentos inesperados, dores nunca antes sentidas. Quais são os sintomas mais visíveis desse trauma histórico?

Por exemplo, o conceito de solidariedade natural, quase 'instintiva', está acabando. Já há uma grande violência do povo contra si mesmo. Garotos decapitam outros numa prisão, ônibus são queimados por nada, com os passageiros dentro, meninas em fogo, presos massacrados, crianças assassinadas por pais e mães, uma revolta sem rumo, um rancor geral contra tudo. Cria-se um desespero de autodestruição e o País começa a se atacar.

Outro nítido efeito na cabeça das pessoas é o fatalismo: "É assim mesmo, não tem jeito não". O fatalismo é a aceitação da desgraça.

E crescem a desesperança e a tristeza. O Brasil está triste e envergonhado.

Essa fragilização da democracia traz de volta também um desejo de autoritarismo na base do "tem de botar para quebrar!". Já vi muito chofer de táxi com saudades da ditadura.

A ausência de uma política contra a violência e a ligação de muitos políticos com o tráfico estimulam a organização do crime, que comanda as cadeias e já demonstra uma busca explícita do horror. A crueldade é uma nova arte incorporada em nossas cabeças, por tudo que vemos no dia a dia dos jornais e da TV. O horror está ficando aceitável, potável.

O desgoverno, os crimes sem solução, a corrupção escancarada deixam de ser desvios da norma e vão criando uma nova cultura: a "normalização" da ignomínia; por trás do crime e da corrupção, consolida-se a cultura da mentira, do bolivarianismo, da preguiça incompetente e da irresponsabilidade pública.

Vivemos um paradoxo, um pleonasmo: aqueles que pensam não sabem o que pensar - como refletir sem uma ponta de esperança? Todos falam: Precisamos fazer isso, fazer aquilo, mas ninguém sabe quem fará. Temos aí a nova escola crítica: a análise impotente da impotência, a "contemporaneidade" pessimista de intelectuais, a utopia da distopia.

É difícil botar a pasta de dente para dentro do tubo. Há uma retroalimentação da esculhambação generalizada que vai destruindo as formas de combatê-la. Tecnicamente, não estamos equipados para resolver as deformações que se acumulam como enchentes, como um rio sem foz.

O Brasil está sofrendo uma mutação gravíssima e nossas cabeças também. Sempre ouvimos que o Brasil estaria à beira do abismo; será que já caímos nele? Será que a vaca já foi para o brejo?


* Nota do Freeman:

Já foi Jabor! 
O que você disse aqui é a mais pura e triste realidade. O imoral, preguiçoso e analfabeto PT conseguiu institucionalizar a bandalheira, a sem-vergonhice, e a ignorância! A única coisa que conseguiu disseminar com o mais alto grau de competência, no super-aparelhado Estado brasileiro, foi justamente a incompetência!  
A Justiça? Último guardião da civilidade, está desmoralizada! Só guardam com fervor o corporativismo e os seus privilégios! De resto é o quem dá mais. A esperança Joaquim Barbosa foi só um ponto fora da curva...
E tudo acontece, quase sem reação desse povo lúdico! Capazes de reunir 2 milhões no Carnaval, ou numa Parada Gay, mas incapazes de reunir 100 mil para ir vaiar e cobrar nossos mandatários, nossos supostos "representantes"...
A "zelite" de sempre, do capitalismo de compadrio, é o instrumento perfeito para os corruptores do Estado brasileiro. Por essa razão que políticos imorais e burocratas gananciosos querem manter - a qualquer custo -  Petrobrás, Eletrobrás, Banco do Brasil, Caixa, etc., etc.. O estadista brasileiro que privatizá-las, não só acaba com o cabide de emprego, os privilégios e a incompetência delas, mas ACABA com a corrupção no País!
O povo analfabeto do bolsa prostituta, bolsa ladrão, bolsa camisinha, bolsa quanto mais filho, melhor, etc., também não quer largar a rapadura...
Sim Jabor, com certeza, a vaca foi para o brejo!

quarta-feira, dezembro 10, 2014

"Um País tem interesses."


É conhecida a definição de um ex presidente norte-americano ao referir-se às relações entre países: “um país não tem amigos, tem interesses”, repetindo famosa citação do Secretário de Estado norte-americano John Foster Dulles. O que afirmava a máxima, aparentemente cínica, era que cabe a dirigentes de um país zelar pelas relações do país com outros em função não da simpatia entre dirigentes e, sim, dos interesses (ou ganhos) de um país em relação a outro.
Essa reflexão vem a respeito do relacionamento do Brasil com países como Irã, Venezuela, Equador e Bolívia, por exemplo. Ou das claras manifestações de Lulla quando se refere aos norte-americanos e aos colombianos.
O recente e malfadado acordo assinado por Turquia e Brasil com o Irã foi marcado pela excessiva credulidade de Lulla e por seu desejo de aparecer como líder mundial e, especialmente, aborrecer os Estados Unidos. Dias depois, as sanções impostas ao Irã por sua tentativa de desenvolver armamento nuclear vieram referendar o que (com exceção de Brasil e Turquia) se acreditava sobre o “Acordo” assinado com Ahmadinejad: um tiro n’água.
Os outrosamigos” do Brasil – na verdade, de Lulla –, especialmente a Venezuela, têm em comum o autoritarismo, o ódio à imprensa livre e a excessiva presença do Estado na economia. A bem da verdade, tem que ser dito que tanto Brasil quanto Venezuela apoiam, de forma descarada, as FARC, um misto de bandidos e traficantes de droga. As FARC sempre foram consideradas pelo PT um grupo insurgente, com a característica marcante de acreditarem que os fins justificam os meios.
Antes de saber com quem simpatiza, mais ou menos, a política externa deve atender aos interesses da Nação. Não devem entrar nesta conta eventuais simpatias pelo presidente iraniano, por Chávez, Correa ou Morales. O Presidente tem que considerar o que interessa ao País e não, suas simpatias pessoais.

ARTHUR
CHAGAS DINIZ * PRESIDENTE DO INSTITUTO LIBERAL