domingo, abril 23, 2006

Onde está você?


Onde estão esses lábios, que primeiro, só de relance sob a chuva, vi chegar...
Onde estão aqueles lábios que, com palavras amorosas, conquistaram-me, sem pensar.
Onde estão os teus beijos ardentes, que como um sopro, uma brisa de verão arrebataram-me de águas fundas, bem distantes, de um outro qualquer lugar.
Onde achar esses lábios novamente, que com ternura desprendida atraia-me num convite regular, como as ondas que se espalham no rochedo, todos os dias, no mesmo lugar...
Muitos anos se passaram e às vezes penso com uma nostalgia quase fugaz, pois um cotidiano transformado em palavras duras, tomaram o seu lugar
Os frutos? Sim ficaram. Não há no mundo mais beleza, mais alegria e mais amor que alguém possa desejar!
Mas continuo a procurar,
Onde está você, verdadeira, dos lábios de mel, que conheci naquela estrada indo para o mar...

PS: Este post é em homenagem ao blog romântico da Saramar; à todas as mulheres românticas e sonhadoras do mundo; e aos poetas e poetizas que fazem, sempre, um bem enorme à nossa alma.

domingo, abril 09, 2006

Divagações de Domingo...





Deveríamos valorizar mais a vida. "Viver" mais a vida! E pensarmos menos sobre ela!
A vida é atividade, ação, realização. Cada uma com sua dose de emoção. E claro, pensamos para agir... Mas, no sentido que falo, passamos grande parte do tempo absorvidos em pensamentos e preocupações. Em reflexões, via de regra, sobre o cotidiano; o que nos cerca; a nossa existência.
A vida é aquilo que passa fugaz entre pensamentos e atitudes e parece resistir a qualquer tentativa de avaliação simultânea. Não se pode controlar; apenas se pode viver. E o viver e o pensar, neste sentido, não se entendem bem, porque pensar é como se quiséssemos reeditar o viver, a cena de um filme que jamais será a mesma...

sábado, abril 01, 2006

2006 - De volta ao Passado

Caros Leitores:
Vejam se há algo familiar neste texto.
Será que os políticos brasileiros são incapazes de mudar o seu comportamento? Será que teremos algum futuro político decente? Será esta a nossa sina?


"31 de Março de 1964"

Creio não ser apenas eu a sentir profunda amargura e decepção com o panorama político da Nação.
Há 20 anos, com o movimento de 31 de março, acalentávamos a esperança de que, finalmente, o “País do futuro”, “o gigante deitado em berço esplêndido”, despertaria.
A expectativa geral que uma nova era diametralmente oposta à demagogia populista, à barganha eleitoreira, ao empreguismo, à ineficiência e à corrupção, estava começando.
Esperava-se, em primeiro lugar, que fosse dada ênfase à identidade de um Sistema de Governo representativo, baseado, sem sofismas, na liberdade individual, no ideal do Estado de Direito, e na doutrina da separação (efetiva) de Poderes. Esperava-se que após breve período, pautado sobretudo pelo exemplo, o processo democrático de escolha e rotatividade no poder fosse restabelecido. E ainda fosse estimulada, pela postura do novo ambiente político, a criação de novas lideranças, que nada tivessem a ver com o passado corrompido e viciado. Tinha-se como certo que o novo governo se pautaria, no mínimo, pela seriedade política e pela lisura, no trato da coisa pública. Parecia ter chegado o tempo de responder a "afronta" do velho general francês: "Ce n’est pás un Pais serieux."
Doce ilusão de um jovem apaixonado pelo seu país! Porque nada disso foi feito!
Todos da minha geração, todos os cidadãos conscientes que criaram o espírito e fizeram florescer o movimento de 64, justamente para dar um basta ao statu quo, da época, estão frustrados. Uma geração inteira acabou sendo alienada sob um falso moralismo. Foi marginalizada da crítica e da participação.
Hoje as semelhanças se confundem pelos que querem perpetuar-se no poder. Só eles, acastelados e guarnecidos por um infinito arsenal de medidas de exceção criadas justamente pelo domínio espúrio do Executivo sobre o Legislativo e sobre o Judiciário, só eles não se aperceberam que massacravam o espírito de 64 e estão completamente divorciados na Nação.
A verdade é que a revolução foi usurpada. Tutelada sob falsos pretextos, degenerou-se, corrompeu-se, faliu como ideal. Faliu também como processo, pois precisou mudar, a cada vez, as regras do jogo político, para parecer vitoriosa. E além do fracasso político, temos o econômico. Crescimento? Sim, houve. Mas à custa de que e de quem? Endividaram este país em cem bilhões de dólares! Ao invés da austeridade e racionalidade preconizadas, seguiu-se a megalomania desenfreada! O Estado avançou em tudo e em todos! Baseado num crescente e escorchante sistema de tributação, que, no final das contas, sobrecai no cidadão produtivo e na livre empresa, criaram uma enorme máquina estatal que, sistematicamente, precisa cobrir rombos das suas grandiosidades inoperantes e dos seus mamutes ineficientes.
Nenhum governo decente sobre a face da Terra, em tempo algum, dispôs de tantos instrumentos de intervenção na economia. E entre a ineficiência e o desperdício floresceu, neste país, uma entourage arrogante, singular, que além da incompetência (O Brasil é uma ilha de prosperidade), primou-se por fazer prosperar as mordomias, a especulação e os escândalos. Como se não bastasse, manipulou dados das contas nacionais e sonegou informações de interesse público. Tudo isso, impunemente, como se estivessem numa monarquia absolutista, ou na ditadura de Moscou.
Será que os governos, pós-Castelo Branco, perderam o apoio da Nação porque as medidas impopulares precisaram ser tomadas?
Não senhores!
Perderam pela insensibilidade, por incompetência, e pela cumplicidade com a impunidade! E não por ironia do destino, mas como conseqüência lógica dessa insensibilidade, estão aí, de volta, inúmeros nomes comprometidos com o passado a gritar palavras de ordem de cunho democrático e de probidade, como se tivessem autoridade moral para isso.
Como bem disse um verdadeiro patriota: José Celso de Macedo Soares Guimarães que, por ousar manifestar a verdade, foi acusado de conspirar contra a segurança nacional.
"Não foi para isso que fizemos a revolução. Muito pelo contrário, foi para sobrepor a lisura pública à corrupção. Foi para permitir a crítica livre e responsável, foi para implantar a eficiência e afastar a incompetência... Foi para criar o progresso dentro da ordem, mas sem sacrificar as liberdades... Foi para restaurar a verdadeira democracia, pois só o exercício continuado de soberania popular aperfeiçoa o comportamento político dos cidadãos..."
Por tudo isso, meus amigos, é que passados 20 anos, aquele orgulhoso 31 de março transformou-se num pesadelo, num gosto amargo, naquela sensação vazia do engodo, de que fomos passados para trás, talvez, na verdade, por um 1º de abril.

Este artigo foi publicado originalmente em 1984.
A pintura é uma outra obra maravilhosa de Velasquez.