quinta-feira, fevereiro 28, 2008

A realidade das ideologias: como a esquerda ficou oca .


Imaginem como a esquerda está vivendo agoniada.
Com uma China capitalista a influência de Mao Tsé-tung se limita a enfeitar as notas de 20 yuans. E, em poucos anos de abertura ao capitalismo, a China tem mais milionários e bilionários que o Brasil.
Adeus às longas reuniões dos comunas para discutir qual das linhas ideológicas é mais válida: a chinesa, ou a russa. Eles viviam às turras para ver quem mais, legitimamente, representava o interesse dos oprimidos... Ora bolas, quem saiu do socialismo quer mesmo é melhorar de vida e consumir. Tanto na Rússia e seus antigos satélites, quanto na China.
Está aí, mais uma vez, a demonstração cabal da vitória do capitalismo, com todos os seus eventuais defeitos. Quem gosta de miséria (dos outros) são os intelectuais de esquerda...
A China gera lucros, prazeres e empregos.Tem US$ 1 trilhão em reservas internacionais, obtido por meio de vendas capitalistas para países capitalistas. A cada ano alguns milhões de chineses entram no mercado consumidor.
Fidel, a múmia, é carta fora do baralho. Fora do poder e sem saúde, não desperta mais o fascínio que, confesso, nunca entendi. A esquerda adorava a capacidade que Fidel tinha de entreter as massas com discursos de cinco horas. Achava isso fascinante. Passou despercebido um livro de um economista sueco sobre a economia do uso do tempo (Staffan Burenstam Linder, The Harried Leisure Class, Columbia University Press, no qual ele dá a resposta com muita simplicidade: isso só era possível porque não havia nenhuma alternativa em Cuba. Ninguém tinha mais nada para fazer em Cuba. Entre não fazer nada e ouvir Fidel, ouviam Fidel.
Já pensaram: um presidente do Brasil falando por cinco horas na televisão? Ninguém iria assistir, porque o povo tem mais o que fazer.
O sistema de saúde era “fantástico”, até que alguém perguntou: como a saúde pode ser excelente num lugar em que as pessoas não têm o que comer? A esquerda perdeu a chance de ser politicamente correta dizendo que, em Cuba, não havia obesos...
Li, em algum jornal, que a última vitória de Fidel foi ter colocado o embargo cubano como tema central na eleição americana. Ora, esse argumento só se sustenta quando as pessoas ignoram que o dinamismo do capitalismo o leva rapidamente para onde está o lucro. Com Fidel fora, Cuba terá que ser reconstruída. Os capitalistas já estão pensando nisso. E os cubanos, certamente, viverão muito melhor.
Revolucionários voltavam de Cuba dizendo que o país era maravilhoso. Deliravam com a pobreza, a miséria, as casas e os carros caindo aos pedaços. Chamavam de beleza do socialismo. Quando questionados sobre os problemas, admitiam que, realmente, “la revolución” tinha uns probleminhas.
Poucos direitistas iam a Cuba, mas, mesmo os esquerdistas, depois de meia hora de elogios, se diziam chocados com um outro “probleminha”: a extensão da prostituição. Alguém inventou a anedota sobre a suposta genialidade retórica de Fidel. Quando confrontado com alguém que lhe disse: “Mas, comandante, em Cuba as universitárias são obrigadas a prostituir-se.” Fidel teria respondido: “Mentira capitalista! No és que las universitarias tienem que ser prostitutas. La verdad és que, en Cuba, las prostitutas van a la Universidad.”
Os tempos mudaram.
Agora, a outra agonia dos comunistas é que não poderão mais pichar muros com as sete letras fatídicas: “Fora FMI!”
O FMI hoje é um ator em busca de um papel. Aposentam-se os funcionários e enxugam os quadros porque o FMI tem poucos clientes. Os países que mais tomavam emprestado do FMI aprenderam as lições do próprio Fundo. Não gastar mais do que ganham, realisticamente.
Certamente o FMI é um caso único de burocracia autodestrutiva: acabou com os problemas que o mantinham vivo e hoje batalha para encontrar um novo papel.
O prato final da esquerda também se esvaziou. Acabou a dívida externa, temperada com as “perdas internacionais”.
Que horror vai ser a vida daqui para adiante.
Nixon estava certo quando disse que o caso Watergate consumiu muitas toneladas de papel na década de 1970, nos anos 80 talvez rendesse uns livros, nos 90, alguns artigos e nos anos 2000 seria apenas algumas notas de rodapé.
Destino parecido terão, pelo menos, três temas prediletos da esquerda: Fidel, o FMI e o próprio comunismo.
Fidel não é mito. Caminha para virar nota de rodapé. O comunismo virou o capitalismo mais dinâmico do mundo no século 21. E o FMI batalha para sobreviver.
Os países, sensatamente, seguiram a sua receita, pararam de dar lucros ao Fundo e, controlando a inflação, melhoraram a vida de seu pobres.
Para a esquerda, 1968 foi o ano do protesto. 2008 é o do desalento. Pela primeira vez a esquerda não tem mais nada para celebrar com sua crítica.
Em tempo: nunca fui a Cuba, achava perda de tempo. Daqui a algum tempo, talvez vá.

Nota do Freeman: O artigo original é do professor Alexandre Barros, cientista político, e pró-reitor de Pesquisa e Pós-Graduação do Centro Universitário Unieuro, de Brasília. Está significativamente editado pelo Freeman.

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