terça-feira, junho 15, 2010

Copa e Servidão




Está começando mais uma Copa do Mundo de futebol. Não sei se é apenas minha impressão, mas poucas vezes vi tão pouca empolgação com uma Copa, quanto esta, no país do futebol. E isso a despeito da exuberante propaganda nos meios de comunicação. Somos bombardeados incessantemente com notícias e reportagens sobre a Copa, mas nada disso parece empolgar verdadeiramente a população.
Não tenho a explicação para o fenômeno, se é que ele está corretamente observado. Mas gostaria de propor uma hipótese, talvez influenciada pelo meu desejo de crer nela: o público está saturado de tanto ufanismo barato!
É claro que desejamos a taça, mas desejamos também e principalmente, um nível de vida melhor, um sistema de saúde que funcione, educação verdadeira e não doutrinação nas escolas, segurança para nossas famílias, etc.. E estamos cansados da corrupção, das baixezas e das manipulações políticas, do desvirtuamento e da falta de postura das próprias instituições, que deveriam ser o exemplo para a população.

Aliás, “nunca antes na história deste país” se viu tanta mistura entre um nacionalismo populista e o futebol. Desde Geisel não acontecia de a seleção brasileira desviar seu percurso para beijar a mão do cacique do planalto. O discurso do técnico Dunga no anúncio da escalação foi um show de nacionalismo barato. O povo quer ver futebol, de preferência com craques fazendo arte, mas não deseja ver populistas e demagogos se aproveitando desta paixão nacional.

E aqui, por analogia constatamos, com tristeza, outra realidade histórica: ao povo pão e circo!

Em 1548, Étienne de La Boétie escreveu seu “Discurso Sobre a Servidão Voluntária”, onde sustenta a tese de que o povo acaba sendo escravo por opção. Ele diz: “Os teatros, jogos, farsas, espetáculos, lutas de gladiadores, animais estranhos, medalhas, quadros e outros tipos de drogas, eram para os povos antigos os atrativos da servidão, o preço da liberdade, as ferramentas da tirania”. Troca-se o Coliseu pela Copa, e tudo continua o mesmo. “Assim, os povos, enlouquecidos, achavam belos esses passatempos, entretidos por um vão prazer, que lhes passava diante dos olhos, e acostumavam-se a servir como tolos”, lamentava o autor..
É isso: apesar de não sermos os únicos, somos pródigos nos eventos lúdicos. Do carnaval ao futebol, passando pela maior parada gay do planeta...
Agora, escrever para nossos representantes; reunirmo-nos para atitudes cívicas, mesmo sendo para contestar governos chulos e corruptos; bradarmos contra a "corte de Brasília" e os seus altíssimos impostos, para isso, ninguém vai...
Democracias verdadeiras pressupoem participação consciente de parte substantiva de suas populações. Se não entendermos e participarmos, um mínimo, de como funciona uma democracia constitucional representativa, então dificilmente sairemos desse regime feudal, onde mantemos, como súditos, os parasitas profissionais e seus asseclas...




O artigo original é de Rodrigo Constantino, do Instituto Liberal. Está significativamente alterado pelo Freeman.



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